Última parada: Estocolmo!

14 de junho de 2012




Saindo de Kiruna, fui em apenas duas caronas até o meu destino. Apesar da oferta do motorista de minha última carona, preferi caminhar até a casa da Lollo, no que me parecia uma caminhada de não mais de dez minutos que no final foram quase 40 minutos caminhando em uma estrada deserta e cheia de neve.

A chave me aguardava, deixada escondida pela Lollo que estava trabalhando e só estaria de volta no dia seguinte. Não muito depois chegou o Tomas, marido da Lollo e que não estava presente quando estive lá no verão, comemos um frango delicioso que havia sido deixado pela Lollo antes de sair. Depois do jantar sauna e mergulho na neve, o problema é que a neve estava compacta demais e fiquei com mão e joelho ralados.

No dia seguinte a Lollo estava de volta com suas receitas fantásticas e seu calor de mãe recebendo-me como um filho que não via há muito tempo. Um pouco mais tarde o Tomas levou-me para uma volta de snowmobile, que desta vez se mostrou muito mais fácil do que a minha tentativa anterior na Noruega, era uma máquina muito mais nova e o terreno muito menos acidentado, o que fazia a velocidade ser tremenda.

Snowmobile

Caminhada com o cão

Churrasco na neve

Em outro dia, o Tomas levou-me para dar alguns tiros com o seu pequeno arsenal. Desta vez eram tiros com um rifle de verdade, onde pude sentir um coice de verdade. Fiz alguns tiros ao alvo, e não fui de todo mal, considerando que o alvo estava a mais de cem metros de distância.

Meu alvo

Em outro dia fomos encontrar a Anny e sua família, era deles o urso que ficava no porão dentro do freezer, um lembrete de que eu estava em uma terra de caçadores. Foi ótimo revê-los e contar tudo o que aconteceu desde que passei por lá no verão. Na saída levei um nacho de carne de alce seca que levaria em minha jornada.

Uma homenagem

No dia seguinte, fomos à Finlândia e ao hotel de gelo, um lugar construído todo ano com a promessa de derretimento e reconstrução no próximo inverno, assim, a cada ano, havia um novo hotel, com esculturas em gelo e paredes de neve. Deitar naqueles quartos me fez perguntar que tipo de casal escolhe passar a noite num lugar como aquele, onde a temperatura interna chegava aos 3 graus negativos. Do lado de fora do hotel, a paisagem era ainda mais intimidadora, com um mar congelado até se perder de vista no horizonte.




Alguém se habilita a uma noitada num lugar assim?


Caminhada no mar congelado



Segui viagem no dia seguinte com uma carona da Lollo até a próxima grande cidade, Luleå de onde, no próximo viaduto continuei de caronas com destino a Umeå, meu destino daquele dia, que atingi com duas caronas.

Naquela noite fiquei hospedado na casa da Anna, uma doutoranda de Latvia, com a qual depois de uma rápida conversa, fui ao ensaio de sua banda, que na verdade era não mais do que uma reunião de amigos na qual mesmo eu com minhas parcas habilidades musicais me destaquei. Na volta, avistamos no céu uma atividade tremenda de auroras boreais, na verdade as mais fortes, mais coloridas e mais impressionantes, gostaria que houvesse melhores condições para que eu pudesse tirar uma foto daquele espetáculo. Ainda naquela noite ficamos de papo, mostrando um para outro algumas músicas que lembrávamos, ela tinha um vasto repertório de músicas russas, muito alegres e divertidas.



Segui viagem novamente, agora com destino a Sundsvall, mas para isso eu precisava de um bom ponto para pedir caronas, o que demorou muito a ser encontrado, depois de uma longuíssima caminhada. O ponto que eu acabei encontrando era uma droga, porém para a minha surpresa não demorou dois minutos e pela segunda vez em minha viagem (a primeira havia sido alguns dias antes) parou um caminhãozão e segui de carona por todos os trezentos e tantos quilômetros até Sundsvall.

No caminho um tremenda surpresa, em Umeå, havia mais de um metro de neve (que é um grande problema se vc precisa caminhar e afundar até a coxa) mas já a uns 150 quilômetros ao sul, já se via a grama e um pouco mais, não havia mais nenhuma neve. Ou seja, em poucas dezenas de quilômetros a paisagem mudou completamente, apenas para me lembrar que eu havia deixado o ártico.

Já em Sundsvall, enquanto aguardava notícias do meu anfitrião, resolvi comer um prato de comida Tailandesa de um restaurante ambulante, e dar uma volta pela cidade, que tinha todo o charme das típicas cidades Suecas, com seus telhados em ângulos agudos e suas paredes em tijolos.


O Zimon, meu anfitrião era um cara um tanto reservado e talvez até um pouco tímido, por outro lado, apesar de ter pouquíssimo espaço em seu quarto, recebeu-me com um grande sorriso e imensa hospitalidade. Até se aventurou na cozinha fazendo uma mistura de terrível aspecto, mas de sabor delicioso. No dia seguinte até rolou um churrasco, com cachorros-quentes e “cerveja”, que com 2,8% de álcool não é uma cerveja a ser levada a sério, bizarrices da Suécia.



Neste mesmo dia, acabei encontrando uma garota do CouchSurfing que não pode aceitar a minha requisição mas que se dispôs a mostrar-me a cidade. Era uma garota muito sorridente e cheia de energia. Tinha muitas viagens no currículo e este foi o nosso principal assunto (o que, infelizmente, tem sido uma constante na maioria das conversas que tenho). Finalizamos o passeio com alguns sushis em um restaurante local (muito bom, aliás).

No dia seguinte, segui viagem. Era a minha última jornada até chegar em Estocolmo. Mais uma vez uma longa caminhada, mas desta vez, achei o ponto perfeito! Uma rotatória em obras, faziam os carros passarem por mim a baixíssima velocidade. Acabou parando um senhor, preocupado com o meu bem estar e segurança. Levou-me por algumas centenas de quilômetros até sua cidade, que era linda, tentou algumas opções para não ter que me colocar na estrada, mas no final não teve jeito. Voltei à estrada, e o ponto era terrível, péssimo. A estrada era estreita e os carros passavam a muitos quilômetros por hora. Não me restava outra saída senão caminhar.

Caminhei, caminhei, caminhei. A estrada continuava sempre a mesma, pista única até se perder de vista, pensei que ali seria o dia que eu ficaria no meio da estrada... Mas depois de uns seis quilômetros e mais de uma hora de caminhada, avistei finalmente um lugar de onde eu poderia continuar pedindo caronas. Segui caminhando quando vejo um carro parando por lá. Que estranho, será que era para mim... Levou mais uns dois minutos até que eu o alcançasse, ao aproximar-me da janela, era uma mulher, muito bonitona dizendo que havia me visto na saída de Sundsvall e que não podia parar na hora, e por isso, decidiu parar agora, ia até Gävle, melhor que isso, só se me deixasse em Estocolmo.

Seguimos viagem, ela era uma vendedora de brindes promocionais, trocamos várias experiências da época que eu trabalhava em marketing e comprava produtos de vendedoras como ela. Fiquei muito admirado pelo fato de que são pouquíssimas mulheres com a coragem de dar uma carona, ainda mais para um homem, ela disse-me que fizera muito disso em sua juventude.

Ela me deixou na cidade de Gävle, e após me posicionar em um lugar com boas chances parou um carro e segui viagem. Esse era um jovem que iria até Uppsala voltando para casa após uma viagem de trabalho, a conversa se desenvolveu tão bem que ele acabou esticando o caminho em mais uns 50 quilômetros para me deixar em Estocolmo, me faltam palavras para agradecer pessoas como ele.
Em Estocolmo, evitei as turistices, já conhecia bem aquela cidade do verão e era cara demais para se mostrar particularmente interessante novamente. Meus pensamentos já estavam em meu próximo destino e ainda faltavam dois dias para eu embarcar.

Fiquei hospedado na casa de uma dupla meio estranha. Ela era alguém que falava pouquíssimo e fazia pouco para ser simpática, acompanhada de um amigo de ainda menos palavras, e estes seriam os meus anfitriões. Chegamos à casa, havia um outro casal do CouchSurfing que seriam os meus companheiros naquela casa enorme. Deixaram-nos lá, certificaram-se que estávamos confortáveis e não os vimos mais até a noite seguinte, quando houve uma festa cheia de gente esquisita.

Neste meio tempo, fui encontrar com a Jenna, minha estonteante amiga que parecia que não via há muitos anos, ainda que a tenha visto no verão. Ela e o Linus, seu namorado, são pessoas fantásticas com asquais todo o tempo do mundo não é suficiente para fazer com que sejam cansativos.

Lindos!!

Desta bela companhia despedi-me para enfrentar aquelas festa cheia de gente esquisita que acontecia na sala onde eu dormi na noite anterior. Eu, como não podia dormir e nem estava a fim de beber fiquei tentando me enturmar sem grandes sucessos. Sem problemas, arrumei um cantinho escuro em um dos quartos e tentei dormir por algumas poucas horas, pois naquela noite eu seguiria para o meu próximo, tão aguardado, porém não tão novo destino: Portugal!

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