O Algarve, a meca do Turismo Português

24 de novembro de 2012



Fomos deixados pela mãe da Teresa em um local de boa visibilidade e acesso, ou seja, um local perfeito para caronas. Não demorou e parou um carro trazendo um rapaz muito jovial e seu tímido filho. Demorou dias até colocarmos nossas malas enormes no bagageiro que estava abarrotado de brinquedos do filho, tinha bicicleta, patinete, bola de futebol e centenas de outras coisas. Isso levou-nos a refletir sobre o impacto de uma infância abastada, sobre como crianças que têm tudo passam a valorizar cada vez menos as pequenas coisas da vida e o mesmo serve para os adultos, mas com brinquedos maiores e mais caros. Era particularmente interessante o contraste que aquela dupla dentro do carro tinha para com aquela dupla que pedia caronas e que carregavam tudo o que tinham em suas costas.

Lagos é uma cidade que fica bastante agitada durante os dias de Verão, veem-se muitos tipos diferentes de turista sendo o mais predominante o de pessoas mais velhas e suas famílias. As ruas ficam praticamente desertas durante a tarde e se enchem à noite quando suas lindíssimas praias se esvaziam.
O número de pessoas é proporcional ao número de artistas de rua que encontramos. Só descobrimos isso, claro, depois de tocar por algumas boas horas e com pouquíssimo sucesso. Mais tarde foram mais pessoas, porém, entre tantos outros artistas, as pessoas prestam muito pouca atenção. A coisa só começou a melhorar quando incluímos um cartaz dizendo: “33 países visitados, faltam 20”, uma ideia que eu já havia tido em Lisboa.
 
O cartaz dá às pessoas um vislumbre daquilo que planejamos, mostra que não somos apenas mais uma dupla de músicos de rua que utiliza a música como um meio de sobrevivência, mas uma dupla de músicos viajantes cuja música é parte de um sonho. Nosso sucesso triplicou desta forma.
De Lagos fomos para Albufeira, uma cidade que serve de exemplo de como o turismo é danoso para a identidade de um local. É um local onde tudo é falso, tudo é feito para chamar a atenção de um turista ingênuo e consumista, que sai de lá sem ter a menor ideia do que é Portugal. Eles também nos adoraram, multidões juntavam-se para nos ouvir e deixar suas moedas. Ainda que não sejamos portugueses (eu sou brasileiro, a Teresa alemã), nós somos o que havia de mais português nas ruas de Albufeira com nossas músicas.
Não demorou e a polícia apareceu perguntando-nos sobre a licença que solicitamos uma semana antes e, até o momento (já fazem 2 meses), não recebemos qualquer resposta. Conclusão: tivemos que guardar as coisas e procurar acampamento mais cedo.
No dia seguinte fomos para Tavira, uma cidade muito mais agradável e interessante que, mesmo cheia de turistas, ainda nos permitia sentir que estávamos em Portugal.
Foi muito mais prazeroso tocar ali do que nas outras cidades. Mais pessoas paravam e tomavam o seu tempo para apreciar o nosso trabalho, e este retorno é muito mais valioso para nós do que o retorno financeiro.
 A segunda noite em Tavira foi mais calma, em primeiro lugar porque era domingo, em segundo porque havia um outro músico, de guitarra e voz. Ele até que era bom, mas demonstrava muita timidez, parecia que estava tocando para si próprio ignorando aqueles que o ouviam. De qualquer forma esses dois fatores influenciaram muito o retorno financeiro da noite.
O local onde acampamos, por pura coincidência, era bem próximo à estrada que queríamos tomar no dia seguinte com destino a Lagos. Escolhemos esta cidade por pura preguiça de pensar em outra que ficasse no caminho para Grândola.
 A cidade estava cheia como sempre, mas desta vez havia mais artistas de rua, o que nos dificultou encontrar algum lugar bom. Ficamos com o menos pior e tivemos resultados inexpressivos. O nosso lugar favorito das noites anteriores estava ocupado por um grupo de malabaristas inexperientes que utilizavam música para chamar a atenção que não conseguiam com o malabarismo.
Frustrados com os resultados que tivemos, decidimos pegar as nossas coisas e ir enfrentar os malabaristas, começamos a tocar, as pessoas começaram a gostar, foi um sucesso absoluto. Em determinado momento, um dos malabaristas veio nos parabenizar e se ofereceu para fazer alguns malabarismos enquanto tocávamos. Ele queria, na verdade, fazer a amizade necessária para o seu próximo passo, pedir permissão para o seu número, de repente nos tornamos os reis da rua.
No dia seguinte voltamos à Grândola para mais alguns dias de folga com a família da Teresa, uma segunda despedida para o que estava por vir, a nossa saída definitiva para a Ásia, mais nos próximos posts.

Uma nova parceira!

9 de agosto de 2012



Desembarquei no Aeroporto de Faro. Sim, estava novamente em Portugal, apenas dois meses depois de minha última visita, quando vim fazer um passaporte lusitano e acabei conhecendo a Teresa (cujo relato está aqui).

Depois daquela despedida, eu e a Teresa nos correspondemos quase que diariamente na qual foram surgindo planos cada vez mais ambiciosos de seguirmos viagens juntos. Assim, acabei postergando minha viagem à Ásia para mais uma viagem a Portugal com o objetivo de iniciar essa empreitada junto com ela.

O plano era ambicioso, pois incluía uma forma de nos auto-sustentar: com música de rua. A Teresa com seu talento e experiência ao violino e eu arranhando no violão, coisa que eu não fazia já há alguns anos.

Vou poupar o leitor dos detalhes do nosso reencontro e pular para a nossa primeira viagem juntos: uma aventura de três dias ao Porto, saindo de caronas de Lisboa.


Foi uma viagem muito mal planejada, visto que decidimos em um dia e saímos no outro. A ideia era fazer CouchSurfing, mas não encontramos nenhum anfitrião para nos hospedar. Assim, na primeira noite ficamos em um hostel e na segunda, fingindo-nos de peregrinos do caminho de Santiago, nos hospedamos na base do corpo de bombeiros. 



Apesar do fiasco que foi essa viagem, percebemos que tínhamos um alto grau de afinidade na estrada, e isso é importante para qualquer viagem de uma semana, ainda mais para uma de um ano.

O maior desafio a esta empreitada seria o fato de que a Teresa ainda não havia finalizado o curso de Farmácia na universidade, o que só ocorreria depois de um ano. Para essa viagem ocorrer, seria necessário interromper o curso e continuar após a viagem, e para isso, era primeiro necessário vencer o medo de nunca mais terminá-lo. E esse medo era também compartilhado pelos pais dela, pessoas incríveis.

O Andreas e a Rose vieram morar em Portugal após completar uma incrível jornada de bicicleta pelo mundo. Viajaram por 24 mil quilômetros pelos Estados Unidos, Oriente Médio e Austrália. Além de viajantes são também músicos e, com música nas ruas, financiaram anos e anos de viagens, daí que surgiu a inspiração para uma viagem como essa. Porém, ao invés de apenas bicicleta, seremos mais versáteis com relação ao meio de transporte, usando principalmente caronas, mas não nos restringiremos apenas a elas.

A minha relação com os pais da Teresa foi muito enriquecedora e intensa desde o começo, tentei absorver o máximo que pude de sua experiência de viagem e de vida. Fui integrado à família também na parte musical, tocando a Canon de Pachelbel na frente de centenas de pessoas. Graças a eles, minhas habilidades musicais cresceram exponencialmente.


Eu e Veronika, irmã da Teresa


Canon de Pachelbel

O vídeo:



Convivemos, eu e a Teresa pelos próximos quatro meses em Lisboa, enquanto ela finalizava o semestre na Universidade. Para passar o tempo, fiz um pouco de tudo e com graus variados de sucesso: projeto em Epidemiologia na Faculdade de Farmácia, música de rua e até me enveredar nas artes secretas da culinária.



Ao chegar o mês de Julho, começamos os procedimentos para que a Teresa pudesse tirar o visto Russo (eu como brasileiro não preciso), o que apesar do trabalho e custo alto, deu certo. Depois, enquanto a Teresa passava alguns dias no Alentejo com os pais, eu decidi fazer a minha própria viagem de bicicleta. Saí de Lisboa e fui pela costa oeste e sul até a fronteira com a Espanha. Uma viagem de uma semana, e 470 quilômetros.


Viajar de bicicleta era uma das últimas formas de viajar que me faltava conhecer e gostei muito da experiência com algumas ressalvas, porém: é um meio de viagem solitário, passamos o dia inteiro sem falar com ninguém e quando chega a noite, procuramos um local seguro e isolado para acampar. Por outro lado, cada quilômetro é uma conquista e poder dizer que conquistou algumas centenas deles é um motivo de grande orgulho.



Voltando da viagem, era a vez dos pais da Teresa tirarem alguns dias de férias e para isso precisavam que nós ficássemos cuidando de sua casa e animais. Assim, passamos as últimas semanas de Julho, eu e a Teresa cuidando da plantação de tomate, alperce, berinjela e morango, além das galinhas, gansos, peru e cabras. E entre todas estas atividades, procurávamos tempo para ensaiar algumas músicas para nossas performances de rua.



Tudo pronto para o nosso início de viagem: uma semana no Sul de Portugal entre caronas, acampamento e música. Mais no próximo post.

Última parada: Estocolmo!

14 de junho de 2012




Saindo de Kiruna, fui em apenas duas caronas até o meu destino. Apesar da oferta do motorista de minha última carona, preferi caminhar até a casa da Lollo, no que me parecia uma caminhada de não mais de dez minutos que no final foram quase 40 minutos caminhando em uma estrada deserta e cheia de neve.

A chave me aguardava, deixada escondida pela Lollo que estava trabalhando e só estaria de volta no dia seguinte. Não muito depois chegou o Tomas, marido da Lollo e que não estava presente quando estive lá no verão, comemos um frango delicioso que havia sido deixado pela Lollo antes de sair. Depois do jantar sauna e mergulho na neve, o problema é que a neve estava compacta demais e fiquei com mão e joelho ralados.

No dia seguinte a Lollo estava de volta com suas receitas fantásticas e seu calor de mãe recebendo-me como um filho que não via há muito tempo. Um pouco mais tarde o Tomas levou-me para uma volta de snowmobile, que desta vez se mostrou muito mais fácil do que a minha tentativa anterior na Noruega, era uma máquina muito mais nova e o terreno muito menos acidentado, o que fazia a velocidade ser tremenda.

Snowmobile

Caminhada com o cão

Churrasco na neve

Em outro dia, o Tomas levou-me para dar alguns tiros com o seu pequeno arsenal. Desta vez eram tiros com um rifle de verdade, onde pude sentir um coice de verdade. Fiz alguns tiros ao alvo, e não fui de todo mal, considerando que o alvo estava a mais de cem metros de distância.

Meu alvo

Em outro dia fomos encontrar a Anny e sua família, era deles o urso que ficava no porão dentro do freezer, um lembrete de que eu estava em uma terra de caçadores. Foi ótimo revê-los e contar tudo o que aconteceu desde que passei por lá no verão. Na saída levei um nacho de carne de alce seca que levaria em minha jornada.

Uma homenagem

No dia seguinte, fomos à Finlândia e ao hotel de gelo, um lugar construído todo ano com a promessa de derretimento e reconstrução no próximo inverno, assim, a cada ano, havia um novo hotel, com esculturas em gelo e paredes de neve. Deitar naqueles quartos me fez perguntar que tipo de casal escolhe passar a noite num lugar como aquele, onde a temperatura interna chegava aos 3 graus negativos. Do lado de fora do hotel, a paisagem era ainda mais intimidadora, com um mar congelado até se perder de vista no horizonte.




Alguém se habilita a uma noitada num lugar assim?


Caminhada no mar congelado



Segui viagem no dia seguinte com uma carona da Lollo até a próxima grande cidade, Luleå de onde, no próximo viaduto continuei de caronas com destino a Umeå, meu destino daquele dia, que atingi com duas caronas.

Naquela noite fiquei hospedado na casa da Anna, uma doutoranda de Latvia, com a qual depois de uma rápida conversa, fui ao ensaio de sua banda, que na verdade era não mais do que uma reunião de amigos na qual mesmo eu com minhas parcas habilidades musicais me destaquei. Na volta, avistamos no céu uma atividade tremenda de auroras boreais, na verdade as mais fortes, mais coloridas e mais impressionantes, gostaria que houvesse melhores condições para que eu pudesse tirar uma foto daquele espetáculo. Ainda naquela noite ficamos de papo, mostrando um para outro algumas músicas que lembrávamos, ela tinha um vasto repertório de músicas russas, muito alegres e divertidas.



Segui viagem novamente, agora com destino a Sundsvall, mas para isso eu precisava de um bom ponto para pedir caronas, o que demorou muito a ser encontrado, depois de uma longuíssima caminhada. O ponto que eu acabei encontrando era uma droga, porém para a minha surpresa não demorou dois minutos e pela segunda vez em minha viagem (a primeira havia sido alguns dias antes) parou um caminhãozão e segui de carona por todos os trezentos e tantos quilômetros até Sundsvall.

No caminho um tremenda surpresa, em Umeå, havia mais de um metro de neve (que é um grande problema se vc precisa caminhar e afundar até a coxa) mas já a uns 150 quilômetros ao sul, já se via a grama e um pouco mais, não havia mais nenhuma neve. Ou seja, em poucas dezenas de quilômetros a paisagem mudou completamente, apenas para me lembrar que eu havia deixado o ártico.

Já em Sundsvall, enquanto aguardava notícias do meu anfitrião, resolvi comer um prato de comida Tailandesa de um restaurante ambulante, e dar uma volta pela cidade, que tinha todo o charme das típicas cidades Suecas, com seus telhados em ângulos agudos e suas paredes em tijolos.


O Zimon, meu anfitrião era um cara um tanto reservado e talvez até um pouco tímido, por outro lado, apesar de ter pouquíssimo espaço em seu quarto, recebeu-me com um grande sorriso e imensa hospitalidade. Até se aventurou na cozinha fazendo uma mistura de terrível aspecto, mas de sabor delicioso. No dia seguinte até rolou um churrasco, com cachorros-quentes e “cerveja”, que com 2,8% de álcool não é uma cerveja a ser levada a sério, bizarrices da Suécia.



Neste mesmo dia, acabei encontrando uma garota do CouchSurfing que não pode aceitar a minha requisição mas que se dispôs a mostrar-me a cidade. Era uma garota muito sorridente e cheia de energia. Tinha muitas viagens no currículo e este foi o nosso principal assunto (o que, infelizmente, tem sido uma constante na maioria das conversas que tenho). Finalizamos o passeio com alguns sushis em um restaurante local (muito bom, aliás).

No dia seguinte, segui viagem. Era a minha última jornada até chegar em Estocolmo. Mais uma vez uma longa caminhada, mas desta vez, achei o ponto perfeito! Uma rotatória em obras, faziam os carros passarem por mim a baixíssima velocidade. Acabou parando um senhor, preocupado com o meu bem estar e segurança. Levou-me por algumas centenas de quilômetros até sua cidade, que era linda, tentou algumas opções para não ter que me colocar na estrada, mas no final não teve jeito. Voltei à estrada, e o ponto era terrível, péssimo. A estrada era estreita e os carros passavam a muitos quilômetros por hora. Não me restava outra saída senão caminhar.

Caminhei, caminhei, caminhei. A estrada continuava sempre a mesma, pista única até se perder de vista, pensei que ali seria o dia que eu ficaria no meio da estrada... Mas depois de uns seis quilômetros e mais de uma hora de caminhada, avistei finalmente um lugar de onde eu poderia continuar pedindo caronas. Segui caminhando quando vejo um carro parando por lá. Que estranho, será que era para mim... Levou mais uns dois minutos até que eu o alcançasse, ao aproximar-me da janela, era uma mulher, muito bonitona dizendo que havia me visto na saída de Sundsvall e que não podia parar na hora, e por isso, decidiu parar agora, ia até Gävle, melhor que isso, só se me deixasse em Estocolmo.

Seguimos viagem, ela era uma vendedora de brindes promocionais, trocamos várias experiências da época que eu trabalhava em marketing e comprava produtos de vendedoras como ela. Fiquei muito admirado pelo fato de que são pouquíssimas mulheres com a coragem de dar uma carona, ainda mais para um homem, ela disse-me que fizera muito disso em sua juventude.

Ela me deixou na cidade de Gävle, e após me posicionar em um lugar com boas chances parou um carro e segui viagem. Esse era um jovem que iria até Uppsala voltando para casa após uma viagem de trabalho, a conversa se desenvolveu tão bem que ele acabou esticando o caminho em mais uns 50 quilômetros para me deixar em Estocolmo, me faltam palavras para agradecer pessoas como ele.
Em Estocolmo, evitei as turistices, já conhecia bem aquela cidade do verão e era cara demais para se mostrar particularmente interessante novamente. Meus pensamentos já estavam em meu próximo destino e ainda faltavam dois dias para eu embarcar.

Fiquei hospedado na casa de uma dupla meio estranha. Ela era alguém que falava pouquíssimo e fazia pouco para ser simpática, acompanhada de um amigo de ainda menos palavras, e estes seriam os meus anfitriões. Chegamos à casa, havia um outro casal do CouchSurfing que seriam os meus companheiros naquela casa enorme. Deixaram-nos lá, certificaram-se que estávamos confortáveis e não os vimos mais até a noite seguinte, quando houve uma festa cheia de gente esquisita.

Neste meio tempo, fui encontrar com a Jenna, minha estonteante amiga que parecia que não via há muitos anos, ainda que a tenha visto no verão. Ela e o Linus, seu namorado, são pessoas fantásticas com asquais todo o tempo do mundo não é suficiente para fazer com que sejam cansativos.

Lindos!!

Desta bela companhia despedi-me para enfrentar aquelas festa cheia de gente esquisita que acontecia na sala onde eu dormi na noite anterior. Eu, como não podia dormir e nem estava a fim de beber fiquei tentando me enturmar sem grandes sucessos. Sem problemas, arrumei um cantinho escuro em um dos quartos e tentei dormir por algumas poucas horas, pois naquela noite eu seguiria para o meu próximo, tão aguardado, porém não tão novo destino: Portugal!

De carona no inverno ártico

11 de junho de 2012





Peço desculpa aos leitores pela longa pausa, não foi sem uma boa razão que, aliás, fica para os próximos posts, visto que ainda falta contar sobre a minha ida a Estocolmo.

Já estava muito mais do que na hora de enfrentar a estrada novamente, ficar parado por muito tempo me fez sentir certa urgência em cair na estrada, meu destino final seria Estocolmo, mas ainda havia um longo caminho até lá. E, para compensar por todo esse período de abstinência, eu queria uma overdose e escolhi por caronas como meio de ir até Estocolmo.

Despedi-me dos meus queridos amigos e anfitriões, que tão gentilmente me hospedaram por todo esse tempo. Deu-me uma dor no coração por deixá-los, mas esse sentimento de despedida é uma constante que eu já não sentia havia algum tempo. Ganhei uma carona do Tore até uma bifurcação no caminho para Narvik.

A paisagem era para lá de intimidadora, com mais de um metro de neve nas bordas da estrada, porém, olhando de uma forma mais ampla, sentirei saudades daquela linda paisagem de inverno e aquele fjord com o mar congelado, seria uma última imagem que eu guardaria com carinho da Noruega.  Difícil foi encontrar um ponto seco para deixar a minha bagagem, já estávamos entrando na primavera e a neve começava a derreter dando a si mesma um aspecto sujo e lamacento.


Minha primeira carona foi um fazendeiro que ia até a próxima cidade segundo ele a 7 km, mas que eram na verdade 70 km, os suecos e noruegueses como sempre se deslocam a grandes distâncias costumam cortar um zero em uma unidade de distância local, enfim, excelente.

Ele me deixou próximo a um posto de manutenção de Snowmobiles, assim, era comum vê-los passando rápido para lá e para cá. Fiquei lá, pedindo caronas quando para a minha total surpresa, parou um caminhãozão enorme, destes biarticulados, ele ia até Narvik e me deixaria no caminho, mas antes, precisávamos parar para uma entrega.

No local de entrega, haviam inúmeros veículos militares abastecendo, eles teriam ainda uma longa viagem pela frente com destino à Suécia, estavam ali fazendo exercícios militares, no qual havia ocorrido poucos dias antes um acidente de avião nas montanhas a que me dirigia.


Segui viagem com o caminhoneiro que me deixou na estrada para a Suécia, caminhei um pouco mais e me pus logo depois da entrada em um ponto em que eu poderia ser facilmente visto. Os caminhões militares começaram a passar um atrás do outro, eu não me intimidei e pedi carona para eles também, mas como eu já imaginava ninguém parou, apenas buzinavam em sinal de aprovação e bom humor. Não muito depois consegui uma carona, um guia de montanhismo e esqui que segui até um resort entre as montanhas de Abisko. Ao chegarmos ao destino, havia ali perto um helicóptero pronto para levantar vôo, ele disse-me que se houvesse tempo ele poderia me conseguir uma carona no helicóptero, o problema é que seria de volta para Narvik, como se eu ligasse!

Fui deixado na estrada, no alto da montanha, cheio de neve. Esse foi sem dúvida o momento mais difícil da minha carreira como caroneiro, estava MUITO, MUITO frio, descobri depois que passava dos -9°C, e pior fiquei ali parado por algumas boas horas, pelo menos duas. Os caminhões militares (que havíamos ultrapassado na carona anterior) passaram novamente, os motoristas foram à loucura, buzinaram muito e fizeram uma grande festa por ver aquele caroneiro com a bandeira do Brasil mais uma vez na mesma estrada.



Finalmente um carro parou para me salvar daquela friaca toda, era um alemão que mal falava inglês mas era simpático até demais, até achei que fosse gay e que parou com algumas segundas intenções, pena para ele que essa não é a minha praia, mas foi ótimo pelo fato de ele ter desviado pelo menos uns 200km do caminho para me deixar em Kiruna.

Lá cheguei e fui hospedado em uma casa de estudantes, eram três, mexicano, nepalês e português, muito divertidos e que me levaram para uma partida de futebol com outros estudantes. Muito mal que o fato de eu ser brasileiro eleva a expectativa deles com relação às minhas habilidades inexistentes no futebol.

No dia seguinte, estava pronto para seguir viagem, já com a mochila nas costas quando um rapaz na janela após falarmos rapidamente me oferece uma carona até a saída da cidade (o que me economizou uma graaaaande caminhada), antes disso uma cerveja e um bate-papo rápido. Ele, aliás, era do CouchSurfing também.

Fiquei na estrada, desta vez a paisagem não era tão ruim assim, a temperatura estava até agradável (para os padrões do dia anterior) e após não mais do que uma hora parou uma van vermelha com uma mulher super sorridente e feliz, louca para me dar uma carona, mas ela só iria por 2 km, declinei, afinal, o ponto em que eu estava era muito bom. Mais alguns minutos e ganhei uma carona por uns 150 km com um senhor muito simpático e falador. A segunda carona do dia foi com um fiscal da empresa de trens da Suécia e que me deu uma carona até o meu destino final: Lansjärv,  local de residência da Ann-Louise e do Tomas que já me hospedaram no verão (post aqui) e que encontrei na Turquia (post aqui).

Meus dias em Lansjärv e a continuação da viagem até Estocolmo ficam para o próximo post.

As Auroras Boreais

18 de abril de 2012



Aurora Boreal é um evento cósmico que ocorre nas regiões polares que fazem das noites de inverno destas regiões parecerem mágicas.

O vídeo abaixo explica como e porque elas ocorrem:


Resumindo, as auroras ocorrem devido a influência do plasma oriundo das explosões solares com a alta atmosfera, ocorrem nos polos, pois é ali a parte mais fraca do escudo magnético da Terra.

É um evento surpreendentemente frequente, quando estive por lá, aconteceu quase todas as noites sem nuvem que tivemos, e este foi o problema, quase todos os dias foram nublados.

A primeira noite que eu as vi, era uma noite muito, muito fria, os termômetros marcavam -14°C. Mesmo com toda a roupa que eu tinha, não consegui aguentar por muito tempo. Ainda assim foi o suficiente para vê-las, magníficas e fantásticas.

Vejam no vídeo da National Geographic como elas são fantásticas:


Foi com essa expectativa que fui vê-las e tive uma pequena decepção, elas não são tão rápidas como aparecem no vídeo, elas na verdade são praticamente estáticas, mas como o vídeo é acelerado, parece que as luzes se movem muito rapidamente. Mas isso não tira a magia delas.

Na primeira foto que ia tirar ocorreu umas das mais fortes e magníficas que eu vi em todo o período em que estive na Noruega, porém o lugar era péssimo para fotos devido à todas aquelas luzes, corri para um lugar mais neutro, mas as luzes haviam se dissipado.


Em outro dia, na parte de trás da casa, valia pela paisagem toda.



As melhores fotos que consegui tirar foram na casa de campo do casal Larsen (que me hospedavam), o lugar era lindo, enfiado em um Fjord (braço de mar cercado por montanhas) e as fotos ficaram realmente impressionantes.




Essa não tem Aurora mas serve para mostrar como o lugar é lindo.

No total de 2 meses que fiquei em Sortland, só houve céu claro com Auroras por no máximo umas 4 noites, então, tomem cuidado ao planejar viagens com o objetivo de verem as Auroras, pode ser uma tremenda decepção.

Por fim, quando segui para a Suécia, já muitos quilômetros ao sul, não tinha mais esperanças de ver qualquer outra aurora e, para a minha surpresa, vi a mais forte, impressionante e fabulosa aurora, multicolorida em branco, vermelho e verde e movendo-se tão rápido que o movimento era perceptível. Infelizmente havia muita luz e eu não tinha um tripé para a minha câmera, essa ficou então só na memória.

Trabalhando na Noruega

16 de abril de 2012


Estava em Sortland esperando o meu grande parceiro Tom chegar e, como isso só iria acontecer em duas semanas, achei que seria legal tentar arrumar algum trabalho e quem sabe ganhar um dinheirinho. Segui a sugestão do Tore e da Torhild e fui até o porto, onde sempre precisavam de mão de obra.

Na CTG, uma das empresas que ficam por lá, entrei e localizei o Freddy, responsável pela descarga dos navios. Na conversa, ele não fez muitas perguntas, disse apenas para que eu voltasse mais tarde pronto para trabalhar, o salário era o equivalente a 22€ por hora, uma fortuna se compararmos com os 5€/h de Portugal.

Voltei às 16h, coloquei um macacão preparado para baixas temperaturas, capacete e uma bota de segurança que tomei emprestada de um colega romeno, essa bota possuía a parte da frente em metal, protegendo assim, meus preciosos dedos caso alguma coisa caia sobre o meu pé.

Segui a turma para dentro do navio, descemos uns dois andares passando por uma linha de produção. Neste barco, os peixes são pescados no mar e processados ainda dentro do navio onde são estocados em caixas de 20 kg no porão do navio à -20°C, e era nesse ambiente que trabalharíamos, retirando as caixas para pallets que seriam retirados do navio. De cara eu me assustei com a quantidade de caixas, demorou dois dias para uns 8 homens tirarem tudo.

Trabalhava comigo um cara, que me parecia africano e que era bem devagar, eu sei que não é legal, mas era difícil não rir da burrice dele. Não existe trabalho estúpido o suficiente para que pessoas estúpidas não o façam mal feito.

Naquele dia, trabalhei apenas seis horas, quase nada perto do que me esperava no dia seguinte quando trabalhei 14 horas, muito puxado, mas considerando os ganhos, valia o esforço, cada hora trabalhada representava um dia a mais de viagem em países como Índia ou Tailândia. Devido a exaustão do dia anterior, peguei um dia de folga e trabalhei mais 11 horas no dia seguinte que, interessantemente, foi muito, muito mais tranquilo, acho que meus músculos se adaptaram às condições de trabalho extremas.

Na próxima semana, liguei para o Freddy para ter uma ideia de quando seriam os próximos desembarques, ele disse que não havia previsão ainda, quando perguntei sobre como seria o pagamento ele disse-me que precisaria do cartão de impostos, só que para tirá-lo eu precisaria do contrato de trabalho, ele disse sem problemas, eu só precisava ligar no dia seguinte que ele resolveria esse imbróglio.

Liguei no dia seguinte, e nada de ele atender. No outro dia: nada, muito estranho. E assim foi por semanas e semanas, a minha paciência havia se esgotado, tentei ser legal com ele, mas aquela situação já estava ridícula.

Foi assim que em um certo dia comecei a ligar a cada cinco minutos até a hora que ele atendeu bastante impaciente:

– Olha, eu estou ocupado, quando for para te pagar eu te ligo – disse o Freddy.

– Freddy – respondi calmamente – eu já estou esperando sua ligação há mais de três semanas.

– Não é problema meu se você não tem os documentos para eu te pagar – disse ele cinicamente.

– Como não é seu problema? Para solicitar o cartão de impostos, preciso do contrato de trabalho que era de sua responsabilidade ter me dado antes mesmo de eu começar a trabalhar.

– Então tá, eu ia te pagar sem precisar de documento nenhum, mas já que você insiste, vou te fazer esse contrato, depois pra fazer o cartão leva uns dois meses, mas isso é problema seu. Amanhã vou estar em Sortland e eu te ligo para assinar o contrato.

Na verdade eu sabia que não demorava tanto e estava bastante tranquilo com relação a isso, desta forma, no dia seguinte só restou esperar, esperar e nada de ele ligar, que saco, vamos começar tudo de novo. Comecei a ligar novamente a cada cinco minutos e nada.

No dia seguinte, resolvi ir até a empresa que eu tinha trabalhado, encontrei um dos operadores de empilhadeira e fiquei sabendo que no dia seguinte eu poderia encontrar o Freddy, pois haveria um desembarque. Dito e feito, cheguei no dia seguinte e encontrei o Freddy com sua característica cara cínica.

– O que você está fazendo aqui? – disse ele, já meio agressivo.

– Vim saber como é que vou ser pago – respondi tentando manter a calma.

– Cadê o seu cartão de imposto? – como pode ser tão cínico?

– Como assim cadê o cartão, você sabe que para tirá-lo eu preciso do contrato que você disse que ia me dar.

– Sinto muito não posso te dar nenhum contrato agora, pois isso vai significar que eu ainda quero você trabalhando comigo, mas você é muito chato – e tenta segurar a vontade de pular no pescoço desse FDP.

– Esse contrato você deveria ter me dado antes de começar a trabalhar, era sua obrigação.

– Aquilo era uma experiência, mas você bagunçou tudo.

– OK, se você não quer me dar esse contrato eu serei obrigado a entrar em contato com a Fiscalização Trabalhista para ver o que eles acham disso – na Noruega, os fiscais de trabalho podem fazer a vida do empregador um inferno, mesmo que tudo esteja certo o que não era o caso. Bom daí ele começou a gritar:

– Se você não der o fora daqui imediatamente eu vou chamar a polícia.

– Ótimo, pode chamar, estou curioso para saber o que você vai dizer a eles.

– Que você não pode ficar na Noruega sem documentos.

Foi aí que percebi que o plano dele nunca foi de me pagar, ele achava que eu era um imigrante ilegal e obviamente, nunca conseguiria um cartão de impostos se fosse esse o caso, mas tinha um detalhe que eu nunca tinha falado para ele:

– Amigão, eu sou português, eu posso morar e trabalhar aqui o tempo que eu quiser.
Daí ele ficou putaço, me pegou pelo colarinho e me mandou sair dali, pois estava atrapalhando o andamento do serviço. Daí eu disse:

– OK, eu vou embora, mas antes de ir, eu vou falar para as pessoas daqui da CTG (ele era um prestador de serviços) o tipo de profissional que você é.

– Hahaha, eu dou risada de pessoas que tentam isso, você acha que eu estou preocupado.

Saí do depósito onde estávamos e entrei na primeira porta do escritório e perguntei à uma das pessoas ali para saber com quem eu precisaria falar para resolver o meu problema com o Freddy. Com isso, ainda estava na metade do discurso o Freddy apareceu e me puxou para fora da sala, gritando alto que eu não devia fazer aquilo etc.

Com o barulho desceu um cara do andar de cima, que fez o Freddy se acalmar, expliquei por cima a situação do contrato, eles trocaram algumas frases em norueguês, o Freddy abaixou a bola e me deu um papel com um telefone (que ele já tinha escrito) dizendo para que eu ligasse e resolvesse o problema.

Antes de sair olhei para ele e perguntei:

– Precisava de tudo isso para algo tão simples?

Liguei para o telefone, uma mulher atendeu, passei meus dados, 10 minutos depois encontrei o Freddy novamente para assinar o contrato, no qual ele me fez assinar sem dizer nenhuma palavra. Peguei o contrato, fui à central de impostos.

Uma semana depois o cartão chegou, falei com a mulher e fui pago no mesmo dia.

Com relação ao Freddy, nunca mais o vi, mas ele terá uma surpresa quando os fiscais trabalhistas aparecerem por lá. Bwahahaha!

Ainda mais sorte em Sortland

25 de março de 2012



Voltar ao ártico no inverno era uma promessa que eu fiz a mim mesmo quando saí de lá no verão. Encontrar o Tom seria reencontrar um grande amigo, porém as mensagens que enviei a ele, de uma hora para outra, não retornavam. O Tom estava incomunicável, por razões que não valem a pena serem citadas aqui. Acabei, desta forma, escrevendo a seus pais que se prontificaram a me receber e, coincidentemente, chegariam de viagem exatamente no mesmo dia que eu e no mesmo aeroporto.

O Tore e a Torhild me receberam como um filho em uma estadia que se estendia semana após semana.
A Torhild é enfermeira e trabalha diariamente, uma senhora muito inteligente com quem sempre tive conversas estimulantes e profundas. Sempre fazendo o possível para que eu me sentisse em casa, o que aconteceu depois de alguns dias, me fazendo até me sentir um pouco culpado.

O Tore é um encanador experiente que desde jovem deu vazão à suas aspirações empreendedoras e, com grande sucesso, criou uma rede de lojas de decoração. Apesar da nossa diferença de idade, nos tornamos grandes amigos desde os belos dias de verão, no qual tomamos junto um porre regado a muito vinho e jogo de xadrez.

Tore e sua filha Tove em sua loja

A hospitalidade foi imensa, o conforto nem se fala, além de uma cama confortabilíssima, havia um banheiro só para mim, nesse banheiro tinha uma sauna e o exagero: uma banheira de hidromassagem. Esse último detalhe me fez cair na risada em quanta, quanta sorte eu tinha.


A semana corria tranquila quando recebemos a notícia de que o Tom, grande comparsa, estaria na cidade em duas semanas. Foi essa a primeira desculpa para estender a minha estada.

Bem, já que vou ficar aqui por duas semanas, talvez valha a pena arrumar um emprego. Foi o que eu fiz, com consequências tão complicadas que vai ganhar um post só para isso, mas o que precisa ser dito é que isso me deu motivo para estender minha estada por pelo menos mais um mês.

Fato interessante é que, nos dias em que o Tore saia para fazer alguma instalação ou serviço externo como encanador, acompanhei-o alguns punhados de vezes, os mais interessantes foi a instalação de uma pia, incluindo todo o encanamento de água e esgoto em um supermercado e uma instalação de móveis de banheiro.

Aos finais de semana não havia muito que fazer na cidade, assim o programa principal era ir até a casa de campo nas montanhas que ficava em meio às montanhas de um Fjord lindíssimo chamado Fiskefjord, que traduzindo seria o Fjord dos peixes. Lá passávamos dias bastante relaxantes em meio a toda aquela neve que era muito mais alta do que na cidade.


Da esquerda para a direita: Anne, Tore, Hauk Ivar e Torhild

Uma figura frequente que encontrávamos por lá era a Anne, irmã do Tore, e seu marido Hauk Ivar que era um cara muito legal, sempre falando da vida, cultura, costumes e culinária norueguesa. Também ele que tentou – sem sucesso, devo dizer – a esquiar.


Foi ele também que, junto ao Tore, me ajudou a desatolar o Snowmobile em todas as minhas tentativas de andar nele, é muito difícil, ainda mais na hora que eu caí em um buraco coberto de neve, ficamos mais de dez minutos extenuantes para tirar todo aquele peso do buraco, e conseguimos. Enfim, acho que esportes de inverno e brasileiros são mesmo incompatíveis.

Vale mencionar a linda paisagem de inverno daquela região:







Em uma dessas idas e vindas, acabamos atropelando um alce na estrada. Felizmente era um alce bebê, e o carro era grande, de outro modo, há um sério risco. O alce parecia bem, apenas não conseguia levantar. Chamamos as autoridades que não demoraram a enviar alguém. Imaginei que levariam o pobre alce ao veterinário para tratar dos ferimentos e devolvê-lo à natureza. Ledo engano: o alce acabou levando um tiro de escopeta.


O resultado ficou na estrada.


A razão principal para o meu retorno a esta região era ver as auroras boreais, que também valem um post. Só uma foto para dar um gostinho:


Depois de algumas semanas, recebemos a visita do Tom, apenas para aquele final de semana. Fui com a Torhild ao aeroporto busca-lo e foi um reencontro muito feliz e a alegria se estendeu por todo o final de semana, a começar pela festa que rolou naquela sexta feira mesmo, iniciada no bar, terminada na casa do Tom, com direito a black-out e ressaca máster. Foi triste vê-lo despedir0se do filho e partir a contragosto.

Após algumas semanas, passava a maioria dos dias em casa sem ter muito que fazer. Cansei de tanta preguiça e mandei algumas mensagens para o pessoal do CouchSurfing da região, e entre algumas respostas, recebi uma da Dorka, uma farmacêutica da Eslováquia, assim, os dias ficaram menos monótonos, visto que ela recebia frequentes visitantes. Em um final de semana, fomos a um local onde as tradições Sami (nativos da Escandinávia, relacionados aos esquimós e que viviam ali antes dos Vikings) acompanhados da Maria, uma russa muito engraçada, acabamos não vendo nada senão algumas renas, tiramos algumas fotos e fomos expulsos do local sob protestos da dona, que em geral cobra por fotos como aquelas.



No total foram quase dois meses ali em Sortland, ficar parado por tanto tempo teve um custo muito pesado, não financeiro já que o Tore nunca me deixou encostar em minha carteira, mas um custo pessoal. Eu já estava habituado à vida na estrada, cheia de aventuras e longe de qualquer rotina. Ficar tanto tempo parado significou colocar o meu projeto de vida na geladeira por este período e depois de algumas semanas eu estava sedento para cair na estrada novamente.